Fulôzinha também é cultura!

Hoje é o "Dia D",  e eu não poderia deixar de homenagear aquele que  publicou centenas de poemas em mais de 30 livros (sem contar as antologias poéticas, edições de poesia reunida, livros infantis e de prosa). Ainda que você não seja um aficcionado pela obra de Drummond, irá reconhecer vários versos do poeta que passaram a fazer parte dos ditos populares e das citações em rodas de amigos.

    José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio
e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond
Quer ler mais obras de Drumont?
Trecho retirado do site: http://www.memoriaviva.com.br/drummond/poema022.htm

1 comentários:

Lilian Leal postou o comentário número:

Oi Suzana vim te fazer uma visita e dizer que as meninas do fórum estão preocupadas com você, espero que esteja tudo bem.
Bjos

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